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Não lembro exatamente em qual episódio, antes de toda essa discordância entre os dois, mas já na admissão da possibilidade de que Philip deixasse a espionagem, Elizabeth lhe disse que, caso acontecesse algo a ela, sabia que poderia confiar a ele o futuro dos filhos. Nessa temporada, ficou evidente também em uma fala dela, que os dois dividiram certas responsabilidades de orientação quando Paige foi recrutada e Henry foi para a escola de elite. E diante de todos esses acontecimentos e tensões, ficou difícil pensar nos remorsos que essa mulher carregou ao ter que abdicar da criação do filho não porque foi pega e/ou morreu, mas por tudo ter ficado tão sobrecarregado, perigoso. E então quando o filho vem visitar a família por causa de um feriado tão simbólico e significativo para uma nação que lhe é inimiga e para um nacionalismo que despreza, Elizabeth tem que sair em uma missão quase impossível, com o peso de não ter mais seu companheiro ao lado (ao menos não teve que ouvir o discurso anticomunista de Stan).
Agora, esse companheiro demite funcionários antigos por causa de produtividade, perde o sono por causa de uma falência iminente (o capitalismo não perdoa), compromete uma missão futura e espiona a corrente. Ela emagrece enquanto ele engorda, fuma enquanto ele dança. Ela carrega a tarefa de se matar se for pega e corre os riscos pelos seus companheiros e ideais, o bem coletivo (concordem com o sistema ou não, pra personagem é isso: ela não se acomoda na propaganda do "american way of life" que Stan tanto aprecia do alto de seus privilégios e ao qual Philip cedeu, apesar do evidente desconforto que o persegue...). Aqui, ele vai até ela e nós nem sabemos se é pra ajudá-la nos seus objetivos depois de tudo ou para atingir os seus próprios, junto a Oleg. Eu realmente gosto de Philip e toda a história com Martha foi muito difícil pra ele, a gota d'água diante das fragilidades e dúvidas que enfrentava... não dá nem pra imaginar o quão difícil e perturbador é o tipo de missão que por tanto tempo fizeram, envolvendo-se pessoal, emocionalmente com os alvos. Mas é complicado ter que desconfiar de sua capacidade de cumplicidade para com a companheira de uma vida de segredos, de riscos, de salvamentos mútuos. De todo modo, a impressão que fica com o último telefonema desse episódio é a de que, apesar de todas as desconfianças, mágoas e do afastamento inevitável que enfrentariam, a vida dividida não lhes será ingrata de todo, apesar dos angustiantes sacrifícios pessoais que exigiu.
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