a série está caminhando a uma esfera que EU, pelo menos, acredito ser a melhor possível. São 4 episódios, todos tomando o seu tempo e começando a valorizar cada vez mais o terror que o lugar transmite aos seus personagens do que explorar um suspense pautado em cenas com o monstro, e é daqui que vem a maior beleza dessa escolha: por termos tão pouco contato com o tal urso/homem, aparecendo apenas de relance, nós conseguimos sentir o que os personagens estão sentindo – a confusão, o medo de algo que ninguém pode dizer o que é de fato, a claustrofobia de se estar preso naquele ambiente, etc. Aliando isso à cada vez melhor ambientação, o gelo e o frio como "personagens" fundamentais nessa história, temos uma série que tem tudo pra impor um terror/suspense realmente legítimo na medida em que for avançando. E, depois desse episódio, já consigo fazer comparações verdadeiras com The Thing. Só espero que não perca esse foco e continue explorando a paranoia que o lugar pode trazer a quem a ele está preso.

Tive q voltar no piloto pra ver a cena inicial, qdo dois ingleses interrogam um esquimó sobre o Aglooka e o paradeiro da expedição. Um deles é o James Ross, o mesmo q promete à Lady Jane q irá resgatar o marido dela só em 1850. O almirantado britânico não estava nem aí pro sofrimento daqueles exploradores. Pior q isso aconteceu de vdd.

Na primeira chicotada eu já estava sentindo a dor para uma vida.

tobias menzies sempre presente em cenas de chibatada

A história que Lady Jane contou sobre a experiência de se por à prova no frio; o vislumbre de sol pelos navegadores presos no gelo que foi "o último do ano"; o ser, que não é homem e nem é urso, matando impiedosamente os invasores... Quando Goodsir fala à moça as razões pelas quais estão ali, depois de todos esses fatores serem expostos, elas parecem ser demasiado tolas e de modo nenhum valeriam aquela pena, como Francis bem o sabe. É impressionante o que o senso de dever "para com o império", nesse caso, ou a vontade de provar valor e amor podem fazer. Aqui, o sacrifício desses homens, para a aventura ou para o "dever", parece demasiado desproporcional, ainda mais quando confrontado com o estilo de vida daquela mulher, para quem só importa a sobrevivência e que talvez tenha aprendido a duros métodos que qualquer ambição ou vaidade é nada mais que um espetáculo patético quando certas forças são invocadas ou provocadas. The Terror vem tecendo uma história que muito me impressiona. Faz renascer as perspectivas sobre os medos do mar que assombram os homens desde as primeiras epopeias e despertam em nós, ainda hoje, o sentimento de impotência diante de um mistério que pode ser físico, metafísico ou uma fusão onipotente dessas duas esferas.

Sobre a punição. É horrível ver alguém sendo castigado daquela forma, mas era usual e Hickey não era inocente. Inocente é a moça que ele raptou e queria matar. Estamos assistindo a história a partir dos navegadores e é normal que a empatia surja em benefício a eles... mas são invasores ali e foram avisados que se retirassem. Toda a história de The Terror parece uma resposta aos princípios extremamente cruéis (mas que tanta gente adora relativizar) da colonização europeia imposta a grande parte do mundo. Por mais simpáticos que fossem os agentes, eles representavam um poder essencialmente violento. Francis e Goodsir demonstram respeito à moça e ao lugar, mas seus papéis são o de um amante ciente que se envolveu em uma empreitada duvidosa e de um cientista iludido com um nacionalismo pujante, respectivamente. Outro ponto é o de que, diante do medo que atinge a todos, da histeria e da fome que se anunciam e da morte do capitão, o comando seria inevitavelmente chamado à rigidez. Além disso, Francis sabe que lida com uma entidade maior que todos eles e o modo mais rápido de condenar todos à morte é insultá-la ou aos seus protegidos. Infelizmente, muitas histórias não são nada românticas.