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Não poderia concordar menos com uma das observações que já fizeram sobre este episódio: a cena do interrogatório do Ronnie simplifica bem qual era o objetivo da temporada e qual era a personalidade do Andrew Cunanan.
Andrew cresceu querendo ser visto e tentando convencer as pessoas daquilo que o pai dele o convencera por tantos e tantos anos: o quão especial, extraordinário, ele era. A narrativa “de trás pra frente”, embora tenha soado confusa lá nos primeiros episódios, foi importante para aprofundar a necessidade do personagem de ser visto conforme ele caminhava deixando sangue, terror e perdas por onde passava. Pra mim, isso funcionou perfeitamente. Os episódios foram todos um estudo excepcional da mente do Andrew, como ele acabou se tornando um psicopata, um assassino frio, calculista, extremamente inteligente. Não tenho o que reclamar.
Achei muito impactante a cena em que ele viu o pai dando entrevista na TV. Darren Criss trabalhou muito o lado sínico do Andrew (destaco como exemplo o momento em que ele “faz parte” da missa e funeral do Gianni, pela TV), e não fez feio quando precisou transparecer dor, decepção, apenas com o olhar. Não que eu sinta pena dele, mas pedir ajuda ao pai, chorando, e depois vê-lo tentando lucrar em cima de tudo o que está acontecendo, foi frustrante. “Muitos estúdios interessados, ele quer que o título seja esse, ele está fugindo”. Gente...
E toda a sequência que deu fim à caçada foi primorosa. Andrew não deu o gosto para a polícia e nem as pessoas o enxergassem como elas queriam enxergá-lo. Ele decidiu como seria sua última “aparição”, ao tirar a própria vida. Não sabia que tinha sido daquela forma, em uma casa-barco (até então achava que tinha sido em um hotel) e como a polícia chegou até lá. Ele conseguiu ficar escondido por dias apesar do esforço para que as pessoas o vissem – a cena em que perguntou a melhor saíde sem trânsito para aquele senhor, sem falar que saiu na rua sabe-se lá quantas vezes após o último assassinato.
Aliás, essa crítica feita pelos produtores foi muito bem-vinda. Antes do Versace, Andrew já estava deixando um rastro de terror pelos Estados Unidos. E estava sendo procurado, é verdade, mas não com tanta determinação. Foi só ele atingir e tirar a vida de uma figura pública, famosa, riquíssima, que toda a situação mudou de perspectiva. Não só essa crítica como a discussão da homofobia também foi bem trabalhada – os diálogos no interrogatório do Ronnie exemplificam isso bem.
As cenas com os Versace foram rápidas (como sempre), mas boas de qualquer forma. De fato, Penélope Cruz não precisou de muito tempo de tela para deixar sua marca como Donatela – embora eu confesse que gostaria de tê-la visto um pouco mais. Fiquei com o coração na mão na cena do desabafo, sobre não ter atendido a última ligação do Gianni no dia do assassinato. Não imagino que peso horrível na consciência dela foi ter feito isso. Ricky Martin foi o único do elenco que não me convenceu em nada, absolutamente fora do tom e superficial demais. Edgar Ramírez dispensa comentários. A cara do Gianni.
Por fim, a cena que fechou esta temporada não poderia ter sido mais irônica. Gianni pra sempre lembrado, sepultado em um espaço único para uma pessoa como ele. E Andrew Cunanan, o tão especial e extraordinário Andrew Cunanan, apenas mais uma plaquinha entre tantas outras naquele cemitério. Acho até que o fato de terem usado o nome do Gianni no subtítulo da temporada faz sentido com a proposta da mesma. “the Assassination” já é uma antecipação de que vão contar a história do assassinato, portanto, do assassino. Mas nem assim, Andrew Cunanan teve seu nome como destaque.
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