Destaque: House of the Dragon - 2x4 - The Red Dragon and the Gold
Escrito por: Allan Veríssimo
“Em Porto Real, Larys Pé-Torto Strong, o mestre dos segredos do rei Aegon, havia composto uma lista de todos os senhores que se reuniram em Pedra do Dragão para assistir à coroação da rainha Rhaenyra e tomar parte em seu conselho preto. A sede dos lordes Celtigar e Velaryon se localizava em ilhas; como Aegon II não tinha poderio naval, esses estavam além do alcance de sua ira. Contudo, os senhores pretos cujas terras se encontravam no continente não desfrutavam da mesma proteção.
Com cem cavaleiros e quinhentos homens de armas a serviço da família real, incrementados com o triplo de mercenários experiente, sor Criston marchou contra Rosby e Stokeworth, cujos senhores haviam acabado de se arrepender do apoio oferecido à rainha, e exigiu que eles dessem prova de lealdade e juntassem suas forças às dele. Com esse reforço, as hostes de Cole avançaram contra a cidade costeira murada de Valdocaso, onde os defensores foram pegos de surpresa. A cidade foi saqueada, os navios no porto, incendiados, e o lorde Darklyn, decapitado. Os cavaleiros e homens de armas a seu serviço tiveram a oportunidade de escolher entre jurar suas espadas ao rei Aegon ou partilhar do destino de seu senhor. A maioria preferiu a primeira opção.
O destino seguinte de sor Criston foi Pouso de Gralhas. Advertido de aproximação deles, o lorde Staunton fechou seus portões e desafiou os sitiantes. De trás das muralhas, sua senhoria só pôde observar enquanto seus campos, bosques e vilarejos ardiam e os gados e camponeses eram passados na espada. Quando as provisões dentro do castelo começaram a escassear, ele enviou um corvo a Pedra do Dragão, com um pedido de socorro.
A ave chegou enquanto Rhaenyra e seus pretos choravam a perda de sor Erryk e debatiam a resposta adequada para o último ataque de “Aegon, o Usurpador”. Embora estivesse abalada por aquele atentado contra sua vida (ou a de seus filhos), a rainha ainda relutava em atacar Porto Real. Munkun (que, convém lembrar, escreveu muitos anos depois) diz que isso se deveu ao horror da rainha ao assassinato de parentes. Maegor, o Cruel, havia matado o próprio sobrinho Aegon e se viu amaldiçoado desde então, até perder a vida, exangue sobre o trono roubado. O septão Eustace alega que era o “coração materno” de Rhaenyra que a fazia relutar em arriscar a vida dos filhos que lhe restavam. No entanto, apenas Cogumelo estava presentes nesses conselhos, e o bobo insiste que Rhaenyra ainda estava tão consternada pela morte do filho Lucerys que se que se absteve do conselho de guerra e entregou o comando ao Serpente Marinha e à esposa dele, a princesa Rhaenys.
Aqui, a versão de Cogumelo parece a mais provável, pois sabemos que, nove dias depois do pedido de auxílio do lorde Staunton, ouviu-se o som de asas finas acima do mar, e a dragão Meleys surgiu sobre Pouso de Gralhas. A Rainha Vermelha, assim ela era conhecida, por causa das escamas escarlate que lhe cobriam o corpo. As membranas de suas asas eram rosadas, e sua crista, os chifres e as garras, brilhosas como cobre. E, em seu dorso, com armadura de aço e cobre que brilhava ao sol, vinha Rhaenys Targaryen, a Rainha que Nunca Foi.
Sor Criston Cole não se abalou. A Mão de Aegon esperava aquilo, contava com aquilo. Tambores soaram uma ordem, e arqueiros vieram à frente, com arcos longos e bestas, para encher o ar de flechas e setas. Balistas foram apontadas para lançar ao alto dardos de ferro como os que haviam derrubado Meraxes em Dorne. Meleys foi atingida algumas vezes, mas as flechas apenas serviram para enfurecê-la. Ela mergulhou, despejando fogo de um lado a outro. Cavaleiros queimaram em suas selas quando o pelo e o couro e o estribo de seus cavalos se inflamaram. Homens de armas largaram as lanças e fugiram. Alguns tentaram se esconder atrás de escudos, mas nem carvalho nem ferro são capazes de resistir ao sopro de um dragão. Do alto de seu cavalo branco, Sor Criston gritava “Mirem na cavaleira” em meio à fumaça e às chamas. Meleys rugiu, expeliu fios de fumaça pelas narinas, e um corcel se debatia em suas mandíbulas ao ser engolido pelas labaredas.
E então veio um rugido de resposta. Apareceram outras duas formas aladas: o rei sobre Sunfyre, o Dourado, e seu irmão, Aemond, com Vhagar. Criston Cole havia ativado a armadilha, e Rhaenys viera morder a isca. E agora os dentes que se fechavam em volta dela.
A princesa Rhaenys não tentou fugir. Com um brado satisfeito e um estalo do chicote, ela virou Meleys para os inimigos. Contra Vhagar apenas, ela talvez tivesse alguma chance, pois a Rainha Vermelha era velha e astuta, e com experiência de combate. Contra Vhagar e Sunfyre juntos, a derrota era certa. Os dragões de chocaram com violência a trezentos metros de altura sobre o campo de batalha, em meio a bolas de fogos que explodiram e floresciam com tamanha intensidade que mais tarde os homens jurariam que o céu estava cheio de sóis. A mandíbula carmesim de Meleys se fechou no pescoço dourado de Sunfyre por um instante, até que Vhagar se abateu sobre eles das alturas. Os três monstros despencaram em espiral ao chão. Eles atingiram o solo com tanta força que caíram pedras das ameias de Pouso de Gralhas, a meia légua de distância.
Quem estava mais perto dos dragões que não viveu para contar história. Quem estava mais longe não conseguiu enxergar, devido ao fogo e à fumaça. As chamas levaram horas para abaixa. Porém, daquelas cinzas, apenas Vhagar emergiu ilesa. Meleys estava morta, quebrada pela queda e estraçalhada no chão. E Sunfyre, aquela esplêndida criatura dourada, teve uma das asas quase arrancada do corpo, enquanto seu cavaleiro real sofrera fraturas de costelas, da bacia, e queimaduras que lhe cobriam metade do corpo. O braço esquerdo era o pior. As chamas de dragão haviam ardido com tanta força que a armadura do rei se fundia à carne.
Um corpo que se acreditava pertencer a Rhaenys Targaryen foi encontrado mais tarde junto à carcaça de sua dragão, mas estava tão enegrecido que ninguém pôde ter certeza de que era ela. Amada filha da senhora Jocelyn Baratheon e do príncipe Aemon Targaryen, fiel esposa do lorde Corlys Velaryon, mãe e avó, a Rainha que Nunca foi viveu sem medo e morreu em meio a sangue e fogo. Tinha cinquenta e cinco anos.”
(Trecho do livro “Fogo e Sangue”, de George R.R. Martin. Capítulo “O Dragão Vermelho e o Dourado”)
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episódio 2x4 de House of the Dragon