Escrita por: Amanda Kassis
Este texto possui spoilers sobre os principais momentos do episódio.
O BDS News foi convidado a assistir ao 1º episódio da 2ª temporada de 'House of the Dragon', uma série original HBO, baseada no livro ‘Fogo & Sangue’ por George R. R. Martin.
Graças às transformações de Hollywood nos últimos anos, produções cada vez mais cinemáticas e desafiadoras competem por atenção nos catálogos dos streamings e, em briga de cachorro grande, os dragões de Westeros retornam em toda a sua glória para aniquilar a concorrência. No episódio de estreia da temporada, poucos minutos são necessários para a audiência relembrar que está diante de algo singular – uma magnitude que supera a Muralha tão simbólica do universo de 'Game of Thrones'.
Falando na série-mãe, é impossível citar a primeira sequência de cenas, ocorrida no Norte da Dádiva, onde o príncipe Jacaerys (Harry Collett) está em busca de apoio da Casa Stark, sem destacar o monólogo "winter is coming" – homônimo ao episódio piloto de GoT e a frase mais icônica de toda a saga – que é proferido por Cregan Stark (Tom Taylor). Representando aqueles que decidem manter o juramento feito à Rhaenyra (Emma D'Arcy), a breve aparição do Lorde de Winterfell dá o tom ao episódio que promete ser tão sombrio quanto os esquemas dos Verdes e dos Pretos.
Se a 1ª temporada serviu para conhecermos as peças de xadrez, o retorno é de fato para apresentar como o tabuleiro está se organizando debaixo dos panos. Nada é o que parece ser e, principalmente no lado dos Verdes, as sub-alianças que vão surgindo apenas servem para criar rachaduras entre os aliados. A personificação disso está em Alicent (Olivia Cooke), que permanece uma devota fervorosa com a consciência pesada ao se dar conta do que sua ganância trouxe à Fortaleza Vermelha.
Também, a personagem começa a sentir que cada vez menos consegue exercer influência sobre seus filhos mais velhos. Pode-se dizer que ela quase parece encarnar seu falecido marido ao sonhar com um acordo de paz com Rhaenyra, em uma versão deturpada de 'A Grande Família', mesmo após o assassinato do pequeno Lucerys (Elliot Grihault).
De um lado, ela tem Aegon (Tom Glynn-Carney) com uma dualidade interessante a ser explorada. Ao mesmo tempo que nunca quis sentar no Trono de Ferro e possui um desejo de agradar, principalmente a Mão do Rei (Rhys Ifans), ele também já consegue sentir o poder subindo-lhe à cabeça. Pequenos sinais de rebeldia misturados com sua personalidade cruel e uma provável influência de Larys Strong (Matthew Needham) são elementos que devem causar uma explosão em pouco tempo. Do outro lado, Aemond (Ewan Mitchell), o grande catalisador da Dança no fim da temporada anterior, tem seus próprios planos com seu improvável – e particularmente patético – aliado Sir Cole (Fabien Frankel).
Outro personagem que escancara mais uma vez a sua dualidade é Daemon (Matt Smith), movimentando peças do tabuleiro tanto na luz do Conselho Preto quanto na escuridão ao encomendar o assassinato de seu sobrinho. Ao invés de apoiar a esposa durante o funeral de Lucerys, o príncipe prefere negociar com Mysaria (Sonoya Mizuno) para colocar seu plano mortal em prática.
Até este ponto da série, ele é alguém que passou por diversas metamorfoses, desenvolvendo um senso de dever e lealdade à Rhaenyra, pois é o mais próximo que poderá chegar do trono que sempre quis. Daemon se torna um pilar para os Pretos não somente por seu espírito de general ou amor à Rhaenyra, mas por sede de poder e vingança – algo que vai muito além da usurpação do trono ou da morte de Lucerys. Um plano iniciado por este tipo de personagem só pode resultar nos agonizantes minutos finais do episódio, quando testemunhamos a morte do primogênito e herdeiro de Aegon pelas mãos de Sangue e Queijo – um dos marcos da obra original. Assim, a Dança dos Dragões pode de fato começar.
Ao contemplar o episódio 'Um Filho por Um Filho' como um todo, a narrativa introdutória é esperada e bem-vinda. Não somente serve para relembrar onde cada um dos personagens se encaixa nesta Dança, mas para reforçar uma característica tão valiosa das mentes por trás do universo de GoT: a capacidade de sustentar uma história deste gênero utilizando longos diálogos. Até nos momentos calmos, a história não se mostra arrastada e cada cena, por mais simples que seja, é entregue com louvor por seus personagens.
A magnitude do elenco de HOTD está escancarada em um silêncio tão pavoroso quanto a imensidão escondida depois da Muralha. Por exemplo, possuindo uma única fala em todo o episódio, pedindo a cabeça do responsável pela morte de Lucerys, Emma D'Arcy mostrou toda a potência de sua interpretação ao apresentar uma mãe despedaçada pela perda do filho e, ao mesmo tempo, encontrando forças para liderar uma guerra em busca daquilo que é seu direito e legado. Entre outros nomes que brilharam, vale destacar os atores por trás de Alicent, Aegon e Helaena. Sem dúvida, a morte do rei Viserys, trazido à vida pelo brilhante Paddy Considine, deixa um buraco que é difícil de ser preenchido, porém o potencial é palpável.
Quer acompanhar a 2ª temporada? Semanalmente, aos domingos às 22h, um novo episódio é exibido no canal HBO e simultaneamente disponibilizado na Max. A temporada contará com 8 episódios.
Nota: 8.5