Escrita por: Amanda Kassis
Este texto possui spoilers sobre o desfecho da temporada.
Como Taylor Swift diria de forma eloquente: "you wouldn't last an hour in the asylum where they raised me." O hospício em questão? O mundo das fanfics! Por mais que 'Maxton Hall: Die Welt Zwischen Uns' ('Maxton Hall: O Mundo Entre Nós', no Brasil) seja baseada numa trilogia original da autora Mona von Kasten, os elementos que tornam essa história bem-sucedida são os clichês tão conhecidos e adorados nas obras escritas por fãs. E, mais uma vez, o Prime Video soube tirar proveito disso.
Não é novidade que esse streaming gosta de investir em adaptações de livros, especialmente do subgênero young adult (YA), sendo os mais populares em formato de filmes – tais como ‘Vermelho, Branco e Sangue Azul’, a saga ‘After’ e o recente 'Uma Ideia de Você'. Lançado discretamente há uma semana, 'Maxton Hall' acabou caindo no gosto dos fãs que reconheceram no material tantos plots que marcaram gerações de jovens que gostam de adaptar suas histórias favoritas e compartilhá-las nos fandoms.
A partir daí, o marketing gratuito estava garantido, as cenas já acumularam milhões de visualizações nas redes sociais e a série se tornou o Amazon Original não-americano mais assistido durante uma semana na história do streaming. Será que a qualidade dela está à altura do hype? E, do outro lado, em pleno 2024, será que adaptações de romances YA ainda devem ser vistas com certo receio pela comunidade de seriadores?
Por mais que seja uma produção alemã, 'Maxton Hall' apresenta um prestigioso colégio particular britânico, onde os herdeiros das famílias mais influentes da Europa estudam sabendo que já possuem um pé dentro de Oxford ou Cambridge. Porém, nem todos ali são oriundos de vidas privilegiadas, como é o caso da protagonista, a bolsista Ruby Bell (Harriet Herbig-Matten), que sonha em encontrar um lugar para chamar de seu em Oxford. Em seu último ano antes da formatura, ela tem conseguido cumprir um dos seus grandes objetivos: ser invisível aos olhos dos colegas.
Porém, tudo vai por água abaixo após estar no lugar errado na hora errada, testemunhando um segredo que pode destruir a reputação de Lydia Beaufort (Sonja Weißer), uma das figuras mais populares de Maxton Hall e que praticamente comanda a instituição com seu irmão gêmeo, James (Damian Hardung), graças ao dinheiro e influência de sua família. Qual é o segredo dela? A todo estilo de Aria e Ezra de 'Pretty Little Liars': um caso entre a aluna e seu professor de filosofia.
Sabendo que não pode suportar mais um escândalo e ser vista com maus-olhos por seu pai, o vilanesco Sr. Beaufort (Fedja Van Huêt), Lydia recorre à pessoa com quem sabe que sempre pode contar: seu irmão. Por sinal, a conexão entre eles é um dos pontos altos dessa produção. Como esperado, James tenta silenciar a protagonista da única maneira que um jovem de 18 anos mimado e milionário saberia fazer, ou seja, dinheiro, muito dinheiro! O que ele não contava era com o caráter inabalável de Ruby que não tem intenção de expor a situação ou lucrar com ela, por mais que o valor pudesse ser de grande ajuda em casa – que é sustentada apenas pela mãe após um acidente que deixou seu pai em uma cadeira de rodas.
Isso dá início a um jogo de gato e rato em uma clássica narrativa enemies to lovers, trazendo alguns dos principais elementos tão queridos pelos fanfiqueiros: garota pobre x garoto rico, romance proibido, nerd e capitão do time, etc. O drama acaba colocando Ruby no centro das atenções e nem é preciso dizer que a situação acaba escancarando ainda mais as diferenças entre a realidade dela e de seus colegas. Ao mesmo tempo que o caos acontece ao seu redor e a garota não gostaria de mais nada além de voltar ao anonimato, ela não pode negar que isso rende experiências marcantes para sua adolescência. Aqui, a série entrega uma personagem determinada, apaixonada [não somente por James] e que, junto ao seu par romântico, conta uma bela história de esperança e autodescoberta.
Claro, nem todos os aspectos dessa narrativa foram acertados. Sem dúvida, o maior erro deles foi a história de Lydia. Além da série se recusar a colocar o professor em seu lugar de predador, tirando proveito de uma adolescente e constantemente a procurando na escola mesmo após a aluna se afastar, até mesmo instigando a ideia de fugirem juntos, a cereja no bolo é a decisão de engravidar a personagem na reta final, logo após ter se dado conta de que deveria deixar o relacionamento para trás. Espera-se que esse plot possa tomar um rumo diferente na 2ª temporada já confirmada pelo streaming.
Acompanhado de cenários de tirar o fôlego filmados na Inglaterra e Alemanha, belas trilhas sonoras e um par de protagonistas com uma química avassaladora, 'Maxton Hall' é uma farofa deliciosa de assistir. Respondendo à pergunta inicial, a qualidade está à altura do hype. Ao contrário de certos streamings, o Prime percebeu que histórias simples, mas bem-executadas, são melhores do que um catálogo recheado de erros cancelados na 1ª temporada. De forma alguma essa série alemã é inovadora, mas rende momentos que aquecem o coração da audiência e os mantém interessados na trama até o fim. Sem dúvida, Ruby e James já se tornaram um marco para o subgênero YA.
Agora, sobre a segunda pergunta desta crítica, passou da hora de que produções como essa sejam vistas como o que verdadeiramente são: entretenimento. Nem tudo precisa ser sobre atores renomados, narrativas complexas e premiações. Às vezes, o que os seriadores querem é algo para maratonar ao fim da semana sem precisar explodir o cérebro de tanto pensar – como é o caso da compatriota 'Dark' (Netflix) – e 'Maxton Hall' cumpre essa função com louvor.
Quer assistir? Os 6 episódios da 1ª temporada já estão disponíveis no Prime Video.
Nota: 8.0