Escrito por: Leonardo Markana
Shadow and Bone retorna para mais um ano com altos e baixos. Com sua primeira temporada bem trabalhada e planejada, o retorno da série reflete com certa clareza a incerteza de seu futuro, mesmo que a produção passe semanas no Top 10 dos charts da vermelhinha, o que hoje em dia não significa mais muita coisa. Parecendo ciente de um possível cancelamento, ela resolve se arriscar ao jogar vários plots com seus muitos personagens, resultando em muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, mas sem o devido tempo e espaço para certas narrativas se desenvolverem de maneira apropriada.
Em contrapartida, a temporada também consegue acertar ao se arriscar mudando acontecimentos significativos dos livros, deixando em aberto diferentes caminhos em potencial para uma possível terceira temporada e um possível spin-off de Six of Crows. Se você é um telespectador que possui apego por esses personagens, independente de ter lido os livros ou não, a segunda temporada continua valendo a pena para quem os acompanha desde o começo de suas respectivas jornadas.
Ao focar em sua protagonista, a série não parece saber aproveitar por completo o potencial que Alina possui como uma das Grishas mais poderosas - a Conjuradora do Sol - muitas vezes deixando-a de lado em sua própria narrativa, tanto em questão de desperdício de potencial quanto para dar mais ênfase em seu tedioso e cansativo relacionamento com Mal. Outro personagem desperdiçado é o Darkling, com seus poderes de conjurar as sombras, que parece não ter apresentado uma maior ameaça na temporada como ele poderia ter sido. Passar a maior parte da temporada apenas visitando Alina através de sonhos é um modo bastante falho de trabalhar com o vilão mais poderoso desse universo.
Por outro lado, os Crows continuam maravilhosos e excepcionais como sempre, entregando carisma e uma dinâmica atraente, mesmo que possuam um menor tempo de tela comparado aos núcleos que envolvam Alina de maneira mais direta. Mesmo diante de tais limitações, o núcleo de Ketterdam consegue mostrar eficiência não só para si, mas também em função dos plots principais da temporada, já que a segunda temporada mescla acontecimentos de ambos os dois livros seguintes da trilogia Grisha, Sol e Tormenta e Ruína e Ascensão. Originalmente, nos livros, o núcleo de Alina nunca se encontra com o núcleo dos Crows, então ver que o roteiro soube trabalhar com eles para ajudar sua protagonista acaba sendo um dos acertos na temporada.
Com fã do universo Grisha e telespectador que leu quase todos os livros, foi uma temporada frustrante de assistir ao me deparar com muitas narrativas que se entrelaçam de maneira bagunçada e sem chance de um desenvolvimento mais calmo e melhor trabalhado. Sentir isso me fez pensar que esse problema não deixa de ser um sintoma da má gestão da Netflix nos últimos anos, que não se preocupa com a qualidade de seus produtos, preferindo focar em grandes e duvidosas quantidades. Por conta disso, pelo menos para quem leu, o telespectador irá se deparar com diálogos e cenas que possuem relevância na mídia original, mas que acabaram traduzidas para o audiovisual de maneira pouco desenvolvida ou sem o contexto certo, resultando em um fanservice preguiçoso.
Já para quem não leu e também não possui interesse em conhecer esse universo através dos livros, a segunda temporada de Shadow and Bone não deixa a desejar. Em um aspecto mais focado para o telespectador leigo, os novos episódios não deixam de entregar o que se espera de uma série de fantasia política, junto com muito carisma e boas dinâmicas entre os personagens, mesmo que o roteiro falhe bastante em vários momentos para com este universo tão rico em detalhes e mitologia.
Nota - 8,5