Crítica - The Last of Us

Escrita por: Amanda Kassis

O texto a seguir contém spoilers sobre o desfecho da temporada.

Como prometido, 'The Last of Us' entrega uma história emocionante tanto aos fãs da franquia quanto aos recém-chegados, e eleva o nível de qualidade das adaptações de jogos para um novo patamar.

Para quem não está familiarizado, a série é baseada em uma franquia de jogos, iniciada em 2013, que acompanha os protagonistas Joel (Pedro Pascal), a sombra de um homem devastado pela perda da filha e capaz de fazer qualquer coisa para sobreviver, e Ellie (Bella Ramsey), uma orfã de 14 anos que é imune à infecção do fungo Cordyceps, responsável pela destruição da humanidade há 20 anos. Ambientada em 2023, Joel recebe a missão de levar a garota ao outro lado dos Estados Unidos para um grupo de rebeldes que ainda busca por uma cura.

Quando se pensa em apocalipse zumbi, existe uma associação invetivável a um formato específico de série que se tornou popular graças à franquia 'The Walking Dead', marcada por hordas de zumbis e constante violência. Porém, como o nome já diz, o foco da narrativa de 'The Last of Us' não é a matança dos Infectados, mas nas histórias daqueles que persistem 20 anos depois. Essa produção é sobre o que significa ser humano, tanto as coisas boas quanto as ruins, quando as pessoas não estão atreladas às normas sociais do mundo real. Por isso, ao longo da maior parte da temporada, o perigo se esconde nos grupos de sobreviventes que os protagonistas encontram ao longo do caminho.

A jornada de Joel e Ellie por um país devastado é marcada por desafios físicos e psicológicos. No início, o homem destruído pelo luto apresenta crises de ansiedade e, em determinado momento, não acredita ser capaz de proteger Ellie. Já a garota possui um passado triste e solitário, porém, busca levar a vida com leveza, estando sempre acompanhada de seu livro de piadas ruins.

Conforme há o desenrolar dos acontecimentos, a história solidifica o laço entre essa dupla tão improvável, criando uma dinâmica de pai e filha que ambos necessitavam. A mudança é visível nos dois: o personagem interpretado por Pedro Pascal derruba diversas de suas barreiras emocionais e encontra um novo motivo para viver, enquanto Ellie, brilhantemente interpretada por Bella Ramsey, acaba perdendo parte de seu brilho ao ser exposta à crueldade fora dos muros da zona de quarentena de Boston, onde cresceu.

Após a audiência ser apresenta às diversas histórias tocantes ao longo da temporada como, por exemplo, o romance sensível entre Bill (Nick Offerman) e Frank (Murray Bartlett), e o trágico fim dos irmãos Sam (Keivoon Woodard) e Henry (Lamar Johnson), tudo culmina na sequência de eventos polêmica no hospital de Salt Lake City, que salienta a relação construída entre os protagonistas.

O que começou como uma jornada para tentar salvar a humanidade, termina com Joel sendo incapaz de sacrificar a garota em nome de uma cura hipotética, afinal, colocar o destino do mundo nas mãos de uma única pessoa, especialmente de uma adolescente, e não dar a ela a oportunidade de escolha, é no mínimo cruel. Após as cenas sangrentas, os dois decidem voltar ao refúgio onde Tommy (Gabriel Luna) vive e começar do zero. Para aqueles da audiência que desejarem, a season finale é o momento perfeito para parar de acompanhar e se dar por satisfeitos por um final feliz, pois a escolha de Joel voltará para assombrá-lo na 2ª temporada, que já está confirmada.

Depois de 'The Last of Us' crescer semana a semana até duplicar sua audiência em relação ao episódio piloto, não se pode deixar de perguntar: além da narrativa em si, qual é o segredo para tamanho sucesso? Isso é atribuído a diversos fatores, tais como o orçamento de 10 milhões de dólares por episódio, o elenco estrelado, e a dupla responsável pela adaptação: o criador do jogo Neil Druckmann, e o roteirista vencedor do Emmy, Craig Mazin. 

De um ponto de vista técnico, a produção aposta em cenários pós-apocalípticos muito detalhados, sendo diversos deles cópias exatas daquilo apresentado no primeiro jogo, e na maquiagem impecável para dar vida aos Infectados em seus diversos estágios. Outro recurso inteligente foram os movimentos de câmera que simulam o ponto de vista que os jogadores tinham ao controlar os avatares, o que torna a experiência mais imersiva.

Por fim, 'The Last of Us' fica marcada como uma das grandes produções de 2023, respeitando o material de origem e seus fãs, e permitindo expandir o universo graças aos recursos que o novo formato permite. Para aqueles que ainda não conferiram, a história de Joel e Ellie vale apena ser assistida.

Onde assistir? A 1ª temporada composta por 9 episódios já está disponível para os assinantes do streaming HBO Max.

Nota: 9.0