Escrita por: Amanda Kassis
Este texto contém spoilers sobre o desfecho da Parte 1.
Joe Goldberg, Will Bettelheim e, agora, Jonathan Moore. Assim como o protagonista já assumiu várias identidades, o roteiro da 4ª temporada também busca se reinventar, mas desperdiça a chance ao constantemente optar por alternativas fáceis e clichês, o que evidencia um desgaste no formato de 'You'.
Da última vez que vimos o protagonista, Joe (Penn Badgley) assassinou a sua esposa, Love (Victoria Pedretti), forjou a própria morte e fugiu para Paris em busca de sua nova obsessão, a bibliotecária Marienne (Tati Gabrielle). Entretanto, a produção retorna traçando um rumo completamente diferente ao que ficou subentendido ao fim da temporada anterior. Após reencontrar Marienne, ele decide provar à ela de que pode ser uma pessoa melhor – alguém sentiu um dèja vú? – e a deixa ir embora.
Depois de alguns tropeços, ele se estabelece em Londres sob a identidade de Jonathan e se torna professor universitário de contos da literatura americana. Cercado dos livros que tanto gosta e seguindo uma rotina pacata, não demora para os problemas o encontrarem. Graças aos seus vizinhos, Joe acaba inserido em um grupo exclusivo da alta sociedade britânica, que é repleto de aristocratas, herdeiros e pessoas bem-sucedidas que o veem como um projeto de caridade.
Para se reinventar, a trama aposta no recurso literário conhecido como whodunit, – presente nas narrativas de Sherlock Holmes – resultando em Joe obcecado pela identidade de um assassino de milionários, que tenta usá-lo como bode expiatório para seus crimes, ao invés de por outra mulher. Ironicamente, o próprio narrador deixa claro que esse tipo de recurso é "a forma mais baixa da literatura", o que foge da complexidade apresentada nas outras temporadas.
Ao longo dos novos episódios, Joe se aproxima cada vez mais dos coadjuvantes milionários, desconfiando de tudo e de todos, e constantemente expondo os seus pensamentos para a audiência a respeito dos seus principais suspeitos. Por mais que o jogo de palavras do personagem, sempre repleto de referências, continue sendo interessante, pode-se dizer que os roteiristas tenham pesado um pouco a mão, fazendo com que a história ocorra mais dentro da cabeça do personagem do que nos cenários ao seu redor.
Outro ponto é que esse círculo social é, mais uma vez, formado por personagens caricatos, porém, a maioria deles possui tão pouco tempo de tela que poderiam facilmente ser considerados figurantes ao invés de coadjuvantes. Com apenas uma ou duas exceções, falta carisma para o novo elenco.
Isso está claramente atrelado à visão americana que os roteiristas aplicaram a esses personagens, sendo algo tão exagerado que as falas e ações não transmitem convicção alguma. Eles podem ser descritos como cabeças de vento que não teriam a capacidade de desenrolar a teia de acontecimentos ligada aos assassinatos. Por isso, desde o princípio, há apenas dois suspeitos relevantes: Kate (Charlotte Richie) e Rhys (Ed Speleers).
A série perdeu demais a oportunidade de matar o Joe na última temporada e fazer a Love assumir a série. Uma pena, porque só assim a gente teria uma protagonista carismática.
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"O segundo suspeito é Matthew, quem mais se assemelha a Joe: um escritor americano de origem humilde que, graças à uma reviravolta em sua vida, acaba inserido nesse mundo luxuoso.". Esse não é o Rhys (Ed Speleers)?
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