Escrito por: Pedro Rubens
Nem só de técnica se sustenta uma produção audiovisual. Ainda que as técnicas de fotografia, direção, trilha sonora, design de produção, roteiro, etc, estejam muito bem afiadas, há a necessidade de cuidado para com o que vai ser proposto em tela. Se toda a parte técnica funcionar bem, mas não estiver bem conectada, de nada serve.
Copenhagen Cowboy, nova série dinamarquesa da Netflix, conta a história de Miu, uma mulher que passou anos sendo escravizada por ser considerada uma “moeda de sorte”. Ao ganhar sua “liberdade”, ela invade o submundo criminoso de Copenhague, em busca de justiça e vingança não apenas para si, mas para as demais mulheres em estado de sofrimento que cruzam seu caminho.
A dolorosa história da nossa protagonista segue um fio condutor muito bem definido e você percebe que, durante os 6 episódios, será uma história exclusivamente sobre vingança, ressignificação do papel da mulher e combate a opressão masculina. Nesse ponto, o roteiro não deixa nada a desejar e, atrelado às demais técnicas utilizadas, a produção é um espetáculo visual.
Confesso que se fosse uma série sem uma única fala, onde tudo ficaria dedutível a partir apenas daquilo que iríamos assistir, ainda assim Copenhagen Cowboy fisgaria o público. Visualmente não há absolutamente nada ruim. Do primeiro ao último momento somos inseridos em uma capital dinamarquesa que bebe de águas retro futuristas, mesclando o real e o cyberpunk, com excesso de luzes neon, cores e um amontoado de aberrações cromáticas que a tornam em um espetáculo!
A criação de Sara Isabella Jønsson Vedde e Nicolas Winding Refn, este último sendo bastante conhecido por seu filme Drive, é milimetricamente bem estruturada em todas as suas áreas. Seja na técnica de filmagem, através dos cortes de cena, câmeras girando e transitando entre os protagonistas que assumem uma postura estática, mas perfeitamente simétrica. Seja na trilha sonora exagerada, capaz de criar um clímax propenso para o que virá… A assinatura de Renf está escancarada durante toda a temporada!
Mas, talvez, o maior incômodo ocasionado por Copenhagen Cowboy se dá pela falta de informação. Se aquela é uma cidade realista ou distópica, se os ruídos animalescos que os humanos reproduzem (!!!) são parte da subserviência aos seus senhores ou foi algum procedimento realizado para torná-los naquilo… São muitas perguntas que, claramente, não foram levantadas com o objetivo de serem respondidas, mas unicamente de causar estranheza.
Parabéns, o objetivo foi concluído com sucesso!
O desconforto presente em todos os episódios da curiosa história de Miu ultrapassa as telas e se instaura em quem está assistindo. É impossível não se sentir incomodado com aquilo que estamos vendo e, mais improvável ainda, não se sentir instigado para descobrir mais sobre aquele desfecho e o que são as denominadas “Moedas de Sorte”.
Copenhagen Cowboy é um exemplo de técnica, mas que infelizmente não se encaixa como uma obra só. Aparentemente, todas elas competem entre si para tomar a dianteira e esquecem de funcionar como uma única produção. E ainda que a história da protagonista seja extremamente desconfortante, espero que haja uma possível renovação para saber mais sobre esse curioso universo distópico… Ou seria realidade?
Nota: 7.83
Ainda não vi a série mas a crítica elogiou tanto e no final deu essa nota aí...achei engraçado. 😂
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