Escrito por: Pedro Rubens
Todo ser humano possui sua impressão digital. As particularidades de cada um, suas respectivas ideias, pensamentos, ações e formas de se expressar são únicas e determinam a “assinatura” de cada pessoa. Na produção audiovisual, alguns profissionais possuem características muito específicas e fazem questão de externalizá-la constantemente.
Wednesday, nova série original Netflix, segue a história de Wandinha Addams a partir da sua chegada na Nevermore Academy na busca de dominar sua habilidade psíquica emergente. Junto a isso, a protagonista se encontra no centro de um mistério que já dura mais de 25 anos e envolve a cidade local, bem como seus pais.
Seja pelo desenho animado ou filmes e séries live-action, A Família Addams é o tipo de produção que marcou diversas gerações. Não apenas pela composição familiar peculiar, mas pelas vestimentas, músicas e coreografias. Afinal, se alguém estala os dedos duas vezes seguidas é inevitável lembrar dessa família monstruosa.
Assim como as desventuras contadas na história dos Addams, Tim Burton é um exemplo de diretor que marcou as produções audiovisuais. Queira você ou não, a assinatura de Burton está presente em absolutamente tudo no que ele põe a mão e não há nenhuma dúvida de que aquilo que estamos vendo é criação sua. Em Wednesday temos a mescla entre algo que toca gerações e um marco no audiovisual.
A direção não tem absolutamente nada de novo. Tim Burton continua pondo em prática absolutamente tudo o que sempre fez. Desde a estética visual, em que as formas, cores e seres estão constantemente presentes, formando uma aberração cromática, até às atuações cartunescas e exageradas.
Ainda que haja repetição da fórmula, não há falhas e nem sinais de exaustão na assinatura de Burton. Muito disso se dá pela escalação de elenco, construção de personagens e do universo em que estão inseridos. Esse preenchimento homogêneo não abre espaços para possíveis “faltas”.
Wednesday encontrou o casting perfeito para entregar ao público atuações excepcionais e que são contemporâneas, sem se apegar ao que já havia de material da Família Addams. Absolutamente todo o elenco parece ter se encontrado em seus respectivos personagens e conseguem distribuir-se em tela de tal forma que encontram espaço para aparecer sem roubar o local do outro.
Porém, sem sombra de dúvidas, a entrega de Jenna Ortega é de longe o melhor ponto de toda a série. Sarcástica, bruta, sádica, cética, misteriosa, brutal e apaixonante são apenas algumas das características que são esculpidas durante os oito episódios e, ao final, a única certeza que fica é: aqui conhecemos uma Wandinha diferente de tudo o que já foi visto anteriormente, mas, talvez, a melhor versão até agora.
Por outro lado, abraçando tudo isso tem um roteiro que aparenta demorar para engrenar. Enquanto os primeiros episódios de Wednesday constroem a “sapata da casa”, a impressão que deixa é que a série não sabe para onde está indo. Ora é uma história de adolescentes, ora uma investigação, ora um caso sobrenatural… Em contrapartida, quando o fundamento está finalizado e as paredes começam a se erguer, mesclando todos os núcleos e aprofundando a história, temos uma ótima narrativa!
Para além de qualquer ficção, a série se consolida como um ensaio sobre as relações e as diferenças étnicas e culturais abordadas na série só outorgam isso. Exclua o tom fantasioso e encontre uma produção que coloca na mesa e convida o público para o debate sobre família, aceitação, sexualidade, racismo, herança, vingança, amor, ódio, vida e morte.
Wednesday se propõe a ser um mistério investigativo sobrenatural, mas investiga temas reais e fala diretamente para as gerações que foram marcadas pela Família Addams, através da direção peculiar de Tim Burton. Que todas as peculiaridades que permeiam essa série continuem a ser disseminadas e levadas adiante!
Nota: 8.63
Concordo! Demorou um pouco pra engatar porém os dois últimos ep são perfeitos!
|
0 0 0 |
Ótimo texto Pedro < 3
|
0 0 0 |