Review - Parte 1 da 4ªT Manifest

Escrita por: Amanda Kassis

Este texto contém spoilers sobre a 4ª temporada.

Mais de 1 ano após 'Manifest' ter seus direitos de produção comprados pela Netflix, graças a uma campanha dos fãs para salvar a série, a primeira parte da temporada final está chegando ao streaming. O BDS News teve acesso a 9 dos 10 episódios e traz as primeiras impressões!

Originalmente, 'Manifest' era um drama sobrenatural que estreou no canal americano NBC, em 2018. Após 3 temporadas no ar, a produção foi cancelada, mas caiu no gosto do público ao ter seus episódios disponibilizados na Netflix. Por 6 semanas consecutivas, a produção teve mais de 1 bilhão de horas assistidas nos EUA, além de se tornar a terceira série com mais de 100 dias no Top 10 do serviço de streaming. Agora, a 4ª temporada chega para finalizar a história com 20 episódios divididos em duas partes.

O drama apresenta os passageiros do voo 828 que embarcaram na Jamaica com destino a Nova York, em 7 de abril de 2013. Após uma forte turbulência, eles aterrissam no aeroporto e descobrem que a data é 4 de novembro de 2018, ou seja, 5 anos e meio depois. Considerados aberrações por alguns e um milagre por outros, os passageiros precisam se ajustar ao mundo que seguiu em frente sem eles, enquanto lidam com os misteriosos Chamados – imagens e vozes que dão pistas para desvendar o que aconteceu durante a viagem.

Da última vez que vimos os protagonistas, – os membros da família Stone, que servem como guias para os outros passageiros – eles viviam o momento mais dramático de suas vidas. Grace (Athena Karkanis) foi brutalmente assassinada por uma passageira, Angelina (Holly Taylor), e teve sua bebê, Éden, sequestrada. Durante seus momentos finais, a matriarca reencontrou seu outro filho desaparecido, Cal (Ty Doran), que surgiu 5 anos mais velho – como ele deveria ser se o voo 828 não tivesse acontecido.

O episódio 4x01 se passa dois anos após a tragédia da família Stone. Michaela (Melissa Roxburgh) e seu marido Zeke (Matt Long) assumiram os papéis de figuras parentais para Olive (Luna Blaise) e Cal – já que Ben (Josh Dallas) busca incansavelmente por sua filha desaparecida e foi praticamente destruído pelo luto. Ele é o único que efetivamente não desistiu da busca, pois a polícia declarou Éden como morta e encerrou a investigação. 

Outra mudança apresentada é a nova maneira como o governo lida com o voo 828. Há um Registro que mantém os passageiros sob constante vigilância. Eles recebem ajuda financeira, devem comparecer mensalmente a uma delegacia especializada no caso para interrogatórios e exames, e não conseguem arranjar emprego formal – não sendo mais vistos como um milagre ou enviados divinos, mas como uma ameaça à sociedade, resultando em perseguições, agressões e vandalismo.

Faltando apenas 18 meses para 2 de junho de 2024, quando os passageiros acreditam que irão morrer, exatos 5 anos e meio após o retorno misterioso do avião, os protagonistas focam em desvendar todos os Chamados para tentar salvar suas vidas – mas sem a ajuda de Ben. A dupla Vance (Daryl Edwards) e Saanvi (Parveen Kaur), uma das melhores dinâmicas da série, é parte essencial para solucionar esse quebra-cabeças a partir de uma operação clandestina – já que o governo encerrou as atividades após o desaparecimento da fuselagem do avião na season finale.

Os 9 episódios disponibilizados são recheados de flashbacks para ajudar a entender melhor como os personagens principais chegaram onde estão. Olive, por exemplo, teve que deixar de lado sua raiva e dor para assumir um papel de figura materna para o irmão Cal que cresceu fisicamente, mas é uma criança por dentro. Mesmo não recebendo Chamados, a jovem continua envolvida na trama com seus conhecimentos mitológicos que estão ligados aos acontecimentos do 828. 

Michaela é outra personagem que brilha ainda mais na 4ª temporada. Já que seu irmão Ben está de escanteio, ela se torna capitã do que eles chamam de "bote salva-vidas". O seu casamento com Zeke aparentemente vai bem, mas esse hiperfoco nos Chamados faz com que ela não perceba o apoio que ele precisa. Zeke continua seu plot sobre saúde mental, mas agora está focado no personagem servir como suporte para os outros. Ao focar no sofrimento alheio e negligenciar a si mesmo, as consequências eventualmente o alcançam.

Nos primeiros episódios, a relação de Michaela e Jared se mostra estranha. Os dois personagens parecem pisar em ovos enquanto estão próximos, entretanto essa tensão se esvai e os dois retornam à parceria que era vista na 1ª temporada. Por sinal, o roteiro explora indícios de um triângulo amoroso, o que parece um drama desnecessário após todo o desenvolvimento que ela teve com Zeke ao longo da história.

O último destaque vai para a versão mais velha de Cal, que foi rapidamente apresentado na temporada anterior. O novo ator capta bem a essência de sua versão mais jovem, interpretada por Jack Messina, principalmente seu laço com a irmã Olive, mas possui novas nuances.  Ele está tentando descobrir quem é após ter um total de 11 anos roubados dele, e lida com a angústia de praticamente não existir mais aos olhos de seu pai. 

Para Ben, seu filho foi o responsável por trazer Angelina de volta à casa deles, o que resultou no assassinato de Grace e o sequestro de Éden – isso causa uma mistura de raiva e indiferença. Já para Cal, o luto pela perda da mãe, a confusão de ter uma mente jovem presa em um corpo mais velho, e o isolamento por ninguém fora da família poder saber o que aconteceu, torna o personagem muito mais interessante do que na 3ª temporada.

De maneira geral, 'Manifest' teve um retorno forte e animador. A narrativa está ágil, entregando respostas a cada novo episódio e trazendo de volta rostos conhecidos de passageiros que foram pouco explorados em episódios anteriores. Isso aprofunda a história, já que o mistério do voo 828 não é apenas sobre a família Stone. 

Os episódios fazem valer o lema da série "tudo está conectado", pois ao trazer esses outros personagens de volta e também relembrar antigos Chamados, se torna visível quão meticulosamente as coisas foram colocadas de propósito ao longo dos anos para culminar nas revelações atuais. Cada descoberta reafirma que é uma série inteligente, contendo uma história rica que mistura milhares de anos de mitologia e religião para criar algo único.

Então, qual é o grande defeito? Parece que o orçamento disponibilizado foi direcionado para trazer um elenco mais amplo e novas locações, mas permanece com os mesmos efeitos baratos que, infelizmente, são muito utilizados. É um pouco decepcionante isso ser do mesmo streaming responsável por trazer gráficos de tirar o fôlego como, por exemplo, aqueles vistos em 'The Sandman', 'Stranger Things' e 'Shadow & Bone'.

Está pronto para o início do fim? A primeira parte da 4ª temporada estreia sexta-feira, dia 04/11, no catálogo nacional da Netflix.

Nota: 8.5