Escrita por: Amanda Kassis
Este texto contém spoilers sobre o desfecho da minissérie.
O BDS News teve acesso a todos os episódios de 'The Serpent Queen', nova minissérie histórica original da StarzPlay, baseada no livro 'Catherine de Medici: Renaissance Queen Of France' de Leonie Frieda.
O canal americano Starz é conhecido por apostar em produções ambientadas no passado e protagonizadas por mulheres poderosas, tais como 'Outlander' e a biográfica 'The Spanish Princess'. Porém, basta apenas alguns segundos da abertura da minissérie, embalada por uma trilha sonora de rock e com serpentes espalhadas ao redor do trono, para perceber que 'The Serpent Queen' é uma aposta ousada do canal.
Em um primeiro olhar, a minissérie é uma narração de Catherine de Médici pouco tempo após a morte de seu filho, o rei Francis II. Ao longo dos episódios, ela conta para sua nova dama de companhia, a jovem Rahima, como sobreviveu em um mundo que queria sua cabeça tanto por seu sobrenome poderoso italiano quanto por sua falta de relevância aos olhos da corte francesa.
Ela aborda detalhes sobre os seus primeiros anos de vida, quando atraía a morte por onde quer que passasse, e a série de acontecimentos que mudaram o seu destino após ser prometida ao príncipe Henry II da França, o segundo filho do rei, quando tinha 14 anos.
Nesta fase inicial, a versão jovem é brilhantemente interpretada por Liv Hill. A protagonista aprende a jogar o jogo de influência e poder em um país desconhecido, onde sua única parente, a nobre Diana de Poitiers, era mais sua inimiga do que amiga – afinal, Diana era a amante oficial do marido de Catherine. As coisas ficam mais complicadas quando o príncipe herdeiro morre e Henry II se torna o novo sucessor ao trono e, consequentemente, Catherine será a futura rainha consorte.
Nos flashbacks, a troca da atriz protagonista acontece após o parto do décimo filho de Catherine, em 1556, que nasceu natimorto, o que levou a ser orientada a não tentar uma nova gravidez. A partir deste ponto, a atriz Samantha Morton (a Alpha de The Walking Dead) domina as cenas e mostra de vez o porquê da sua personagem ser conhecida como 'A Rainha Serpente'.
Com uma voz mansa e aparentando serenidade, Catherine joga uma longa e perigosa partida de xadrez em busca de poder, principalmente após a morte de seu marido, que foi sucedido por seu filho mais velho, Francis II, um jovem muito debilitado e sem experiência que tenta governar em meio à crescente tensão na França, em uma época marcada por perseguições religiosas.
Grande parte das suas decisões foram influenciadas por sua esposa, a rainha Mary I da Escócia. O reinado durou pouco mais de um ano e a morte dele na trama é o que leva ao encontro entre a personagem que vemos nos flashbacks e a versão de Catherine que narra a história.
Em um segundo olhar, quando passado e presente se encontram, Catherine contar a sua trajetória para Rahima não é uma tentativa da rainha de ter alguém com quem conversar em meio à perigosa corte. Na verdade, é a peça final para dar o xeque-mate e garantir o cargo de regente até que seu filho de 10 anos, Charles IX, o sucessor ao trono, atinja a maior idade para governar.
Por mais que a produção use e abuse da liberdade artística para contar a vida desta figura histórica, ela ainda parece ser mais fiel do que a versão apresentada na série 'Reign', do canal americano The CW, que tinha Catherine como antagonista nas temporadas iniciais. A minissérie também apresenta uma versão mais realista da rainha Mary I da Escócia, a protagonista de 'Reign' e, agora sob um outro ponto de vista, a antagonista de 'The Serpent Queen'.
O tom satírico utilizado para retratar os acontecimentos também torna a experiência mais interessante. Não saber se os personagens devem ser levados a sério é por si só uma crítica à realidade luxuosa da corte francesa, que era completamente desconectada do sofrimento vivido por seus súditos.
Esse lado cômico lembra 'The Great', série original Hulu, que também está disponível no Brasil pela StarzPlay. Em alguns momentos, os movimentos das câmeras nas cenas dão um ar de sitcom à minissérie e nos fazem esquecer que, em meio aos diálogos absurdos, está em jogo o futuro de uma das nações mais importantes da Europa. Outro artifício usado é a quebra da quarta parede: os momentos em que Catherine conversa com a câmera. Isso pode ser visto como a protagonista falando com a audiência ou como comentários para Rahima, que está ouvindo a história de vida dela.
Também, não se pode deixar de falar do belo trabalho do departamento de figurino e maquiagem. São incontáveis vestidos luxuosos e joias, que ajudam a transportar a audiência para o século XVI. O destaque vai para o guarda-roupa de Diana de Poitiers, que era obcecada em permanecer jovem e bonita, pois era 20 anos mais velha do que seu amante, o rei Henry II. De fato, a nobre foi eternizada em documentos como alguém que não aparentava a sua idade.
'The Serpent Queen' é uma boa pedida para quem está procurando uma narrativa histórica que não se leva tão à sério, garantindo boas risadas em meio ao caos e muitas passadas de pano para a protagonista que não é heroína e nem vilã, mas alguém em busca de liberdade em uma época na qual as mulheres não tinham voz.
A minissérie estreia no domingo, dia 11/09, e contará com 8 episódios, que serão disponibilizados semanalmente na Starzplay.
Nota: 8.0