Escrito por: Pedro Rubens
A constante renovação de algumas séries têm sido alvo de duras críticas. Como via de escape, muitos enxergam no desenvolvimento de spin-offs a oportunidade de continuar contando histórias daquele determinado universo. De fato, toda produção precisa saber a hora de parar e encerrar o ciclo de forma favorável e agradável para todos.
Better Call Saul chega ao fim e entrega ao público um desfecho que não apenas agrada e entretém, mas que reforça todas as ideias construídas desde a sua precursora. Com uma história extremamente bem costurada e fundamentada, a série proporcionou ao público um verdadeiro deleite nos últimos episódios.
A criação de Vince Gilligan e Peter Gould conseguiu responder às duras críticas recebidas logo após o anúncio da sua existência. Durante 6 temporadas a história envolvendo o querido advogado apresentado em Breaking Bad crescia e ganhava mais robustez, profundidade e significado.
Em seu último ano, e especificamente nos 6 últimos episódios, a proporção atinge níveis abissais e disseca o seu protagonista. Seguindo a sua própria essência porém de forma mais aguçada, Better Call Saul escancara todos os medos, temores, vícios, riscos, ousadia, paixão e todas as demais coisas que cercam Jimmy.
À medida que os arcos vão sendo finalizados e o cerco vai se fechando, todos os holofotes se voltam para o protagonista e a série consuma a verdadeira persona de Saul Goodman, coroando-o com uma cena primordial na transição Jimmy - Saul. Se aí fosse o series finale já seria digno de ovações, mas a capacidade criativa de toda a equipe transcende e nos apresenta uma espécie de epílogo, com imagens em preto e branco, relances coloridos e a reflexão de que a vida só tem cor quando vivemos sendo nós mesmos!
O texto desenvolvido para cada diálogo corrobora com o que é dito em silêncio, onde simples olhares cruzados, ligações recebidas com expressões desesperadoras, ou até cenas que referenciam ao início da série falam muito mais do que diálogos prolixos. Se me é permitido fazer esse tipo de análise, ouso dizer que assistimos a um personagem fictício que reflete o ser humano brilhantemente.
Construir algo que funcione não apenas como ensaio de personagem mas que também seja um reflexo direto da condição humana não deve ter sido fácil. E se você estiver achando que é exagero meu, basta lembrar do famoso “jeitinho brasileiro” onde queremos dar um jeito para resolver todas as coisas da maneira que sempre seja benéfico para nós. Durante as 6 temporadas nós simplesmente estávamos nos vendo ali, através de Saul, Kim, Mike, Gus, Howard e tantos outros.
Voltar ao Novo México, encontrar as paisagens conhecidas por velhas histórias, outros personagens e descobrir novos enredos vividos ali foi prazeroso, ainda que com um desfecho doloroso na mesma medida que impecável. Por fim, deixo aqui minha total satisfação e alegria pelo privilégio de poder vivenciar e acompanhar a grandiosidade desse show.
A verdade é que esta nunca foi uma série spin-off experimental, onde as coisas foram jogadas aleatoriamente com o intuito de continuar revisitando o universo já estabelecido e amado, criado por Gilligan e Gould. Better Call Saul construiu seu próprio império, sólido o suficiente para ter voz e vez, marcando a história do audiovisual como uma das melhores produções derivadas de todos os tempos!
Nota: 9.75