Escrito por: Pedro Rubens
Há inúmeros motivos que levam uma série à renovação. Talvez o maior deles seja a rentabilidade advinda daquele título, seja por meio de audiência, comercialização de produtos ou até pela possibilidade de atração para outros títulos do canal ou streaming. Porém, até que ponto vale a pena renovar determinada produção?
Westworld, série original HBO, voltou para seu quarto ano com uma missão - aparentemente - impossível: aprumar os eixos e voltar a girar engrenagem após uma terceira temporada que levou a série para um possível abismo. Diante dos eventos que sucederam com Dolores, Hale, Maeve, William, Bernard, todos os anfitriões e humanos, não dava para esperar muito do que estava por vir.
Curiosamente a surpresa já aconteceu no primeiro episódio quando as peças começaram a se encaixar e voltar a fazer sentido, abrindo mão de tudo o que o ano anterior trouxe de pior e abraçando as complexas decisões da primeira temporada. Tudo era novo, instigante, misterioso e havia uma constante sensação de “nada faz sentido, não estou entendendo nada mas quero ver mais”.
A construção narrativa da temporada atual apresentava constantemente que por trás de tudo havia um fio que estava conduzindo toda a história, ligando o arco principal com os arcos coadjuvantes e construindo um império. Os diálogos demonstravam ter sido elaborados de forma minuciosa, o texto era afiado e desafiava fé, racionalidade, realidade, ficção e a supremacia das coisas.
Diante da grandiosidade desta nova leva de episódios a protagonista de Westworld voltou a ocupar seu lugar de direito, ainda que de imediato houvesse apenas pulgas atrás da orelha. A métrica da série não ajudava a entender o que de fato estava acontecendo com Dolores, que agora atendia pelo nome de Christina. Toda a aura que pairava ao redor da personagem era instigante na mesma proporção que era como uma névoa onde nada estava claro.
Da mesma forma, Charlotte cresceu no decorrer da temporada e desempenhou papel fundamental principalmente no que diz respeito ao encerramento do novo ano. A grandiosidade das suas falas causavam choque não apenas aos personagens com os quais interagiam, mas também ao público. A cena mais poética, linda, primorosa e bem executada de toda a série é protagonizada por esta personagem e me causou inúmeros arrepios enquanto um balé dançava em uma rua e um discurso poderoso era proferido.
Os arcos secundários seguiram o mesmo caminho e avançavam gradativamente com seus personagens, seja através das linhas temporais que a série trabalhava e aparentava não ir a lugar nenhum, ou quando todas se cruzaram e começaram a desenhar o desfecho dos nossos queridos anfitriões. A dolorosa jornada de Maeve, a psicopatia de William, a confusão de Bernard e o amor incondicional de Caleb chegam a um possível fim de forma satisfatória mas deixa a sensação de que “eles mereciam mais”.
Talvez o único problema do quarto ano do show seja o último episódio, que segue uma linearidade completamente diferente dos anteriores. Em uma temporada ascendente, onde semana após semana a narrativa crescia em profundidade, persuasão, autoconhecimento e quebra de paradigmas, encerrar o arco atual de forma singela e humilde foge do padrão estabelecido na nova temporada.
Westworld finalmente consegue justificar a renovação para a quarta temporada e, ainda que a season finale aparente ser o último episódio da série, ainda assim os indícios de uma nova temporada para conclusão de tudo está presente na última cena. Ajustar as coordenadas e criar um novo ano como esse com certeza não foi fácil, mas finalmente temos a série de volta com a mesma essência do seu primeiro ano.
O discurso de Dolores no último episódio metaforizando o saber com árvores e o que tem abaixo do solo é certeiro em resumir a maneira como a temporada atual seguiu, mas que seja também um anúncio do que ainda virá e que venha uma conclusão digna do que Westworld merece.
Nota: 8,69