Escrito por: Pedro Rubens
Talvez estejamos vivendo a era das produções sobre crimes reais. Recentemente, a maioria dos canais e streamings estão desenvolvendo, exibindo ou finalizando alguma série que aborda um crime real, dos menos conhecidos até os que foram parar nos tablóides, revistas, sites, etc. De fato, há muito para se contar.
Black Bird, minissérie original Apple TV+, conta a história de James Keene, um traficante de drogas que acaba sendo preso e condenado a 10 anos de prisão. Para reduzir sua sentença, ele aceita ir para outro presídio e coletar confissões de um serial killer que estupra e assassina mulheres.
Na série, a interpretação excepcional de Taron Egerton dá vida ao charmoso e esnobe traficante, apresentando todo o processo de desconstrução que ele passou no mundo real. Ao seu lado está o brilhante Paul Walter Hauser que encarna assustadoramente o serial Larry Hall. O que essa dupla faz em apenas 6 episódios é algo fora do normal!
A fala mansa e ponderada de Hauser é contrastada com o constante medo transmitido por Egerton. Corroborando tudo isso, a presença de ambos é notada em absolutamente todas as cenas ainda que não estejam em tela, sendo eles apenas referenciados.
O somatório de um elenco perfeito com um criador que é mestre em produções de suspense faz com que Black Bird seja uma das melhores produções de crime reais do ano. A assinatura de Dennis Lehane está estampada em todos os episódios e isso é um dos pontos positivos: entregar uma produção que adapta os relatos da autobiografia do protagonista nas mãos de uma equipe especialista no que faz.
O roteiro não demora para engrenar, pelo contrário. No primeiro episódio já somos apresentados ao protagonista e todo o seu arco envolvendo drogas, família e dinheiro, mas também conhecemos o antagonista da série, o famoso Larry Hall.
Black Bird constrói dois personagens e começa a dissolvê-los como pó. À medida que suas vidas se encontram, as características vão sendo apresentadas e trabalhadas, aproximando-os fisicamente, mas afastando-os de todas as demais formas.
Mas se o arco principal é extremamente bem sucedido no que propõe, os plots secundários não saem do raso. Não há profundidade nos personagens do FBI e todo o seu enredo não passa de um respiro diante da tensão constante entre os protagonistas. O mesmo se repete nos núcleos familiares de Jim e Larry: conhecemos suas respectivas famílias, os problemas conjugais, de saúde e até as questões psicológicas de alguns deles, mas é apenas isso.
Se estes arcos são consideráveis para a história principal, como possivelmente foram na vida real, faltou algo que desse a importância devida… Afinal, crises familiares, policiais corruptos e troca de funcionários em presídios nós já conhecemos de outras tantas produções fictícias, mas, na história do mundo real, quais as relevâncias?
Black Bird entrega uma series finale espetacular, repleta de tensão e medo, mas fecha o arco da dupla de criminosos de forma satisfatória. Que outras tantas produções do gênero consigam manter o altíssimo nível e entregar temporadas que envolvam o público e instiguem a curiosidade.
Nota: 8,50