Escrito por: Pedro Rubens
A crescente disseminação da palavra "estereótipo" tem aberto os olhos e a mente da população em geral para essa questão. A ideia pré-concebida sobre algo, alguém ou grupo de pessoas espalhou-se, e ainda espalha-se, outorgando ideias que por inúmeras vezes terminam não sendo condizentes com a realidade.
Dark Winds, série do AMC, segue dois policiais navajos, Leephorn e Chee, no sudoeste dos anos 1970. Enquanto buscam pistas em um terrível caso de duplo homicídio e investigam o assalto a um carro forte, os agentes são forçados a desafiar suas próprias crenças espirituais e encarar traumas de seu passado.
Esqueça tudo o que você ouviu falar ou assistiu em produções que apresentavam os índios navajos. Aqui não existe romantização, tampouco vergonha sobre o estilo de vida desse povo, suas crenças religiosas e culturais. Tudo é muito genuíno, pensado milimetricamente numa sala de roteiristas composta por cerca de cinco escritores indígenas.
Talvez por isso o roteiro conta uma história fluida, absurdamente homogênea e que permeia por gêneros como o western e o noir, sem demonstrar esforço algum e fazendo-o brilhantemente. A mescla entre cultura, religião, questões sobrenaturais, organização social e investigação não necessita de uma pitada de contemporaneidade e nem de adaptações para encaixar-se em fórmulas já existentes.
Desde a escolha do elenco à composição da trilha sonora, a fundamentação de Dark Winds parte da ideia de mostrar quem de fato são os povos navajos. Sem abertura para esteriótipos de índios com arco e flecha que saem para caçar durante o dia e que ficam apenas dançando e tocando seus instrumentos durante as noites.
Para além da ambientação e dos aspectos culturais, a produção se preocupa em mostrar naturalidade em questões que para eles são rotineiras: as áreas desertas em que habitam e a natureza singular que os cercam não são tratadas como objetos e nem com sensacionalismo. As locações cumprem seu papel de inserir o espectador naquele ambiente que por vezes parece ter vida própria e funcionar como um dos personagens da série.
Agregando a tudo isso, a dinâmica buddy cop vivida pelos protagonistas parece fazer uma releitura dessa estrutura narrativa. Leephorn e Chee, vividos brilhantemente por Zahn McClarnon e Kiowa Gordon, criam uma nova espécie de dupla disfuncional, repletos de medo, incertezas e fantasmas do passado que corroboram na construção da amizade e funcionalidade dos dois.
Dark Winds se desnuda de estereótipos e conta uma história singela, humilde e singular, mas esborrando significado e conhecimento sobre si. Com potencial para ser uma das melhores séries do ano, essa é uma daquelas produções que deveriam estar no centro dos holofotes e crescendo não apenas em audiência, mas em relevância social.
Nota: 9,0
Quando a capa da primeira temporada foi me apresentada, quando vi Zahn McClarnon (o Joe Leaphorn) já pensei, essa série deve ser boa, porque já gostei da atuação dele em The Son (Toshaway) e Westworld (Akecheta). E não me arrependi de ver a primeira temporada, o enredo moderno (crime organizado) aliado ao poder sobrenatural do povo navarro já me cativou... Aguardando a segunda temporada. Nota: 8,5
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