Escrito por: Pedro Rubens
Adaptar eventos históricos sempre é um risco. Há uma linha tênue entre a fidelidade dos fatos e a gama de ficção que será implementada na narrativa adaptada, o que pode causar estranhamento do público e até um retorno de audiência fraco. Mas mesmo diante dos riscos, por inúmeras vezes é mais viável produzir algo já documentado e que dê embasamento para o roteiro ao invés de construir algo do zero.
Sín Limites, série do Prime Vídeo, embarca no navio com Juan Sebastián Elcano e Fernão de Magalhães para fazer uma viagem que traçaria uma nova rota para a Índia. Entre tempestades, doenças, fome e assassinatos, a tripulação desbravou o mundo e conseguiu descobrir uma linha de navegação que ainda hoje é considerada como a maior façanha marítima da história.
Desde o piloto, a maior dificuldade apresentada pela série é na hora de ser sucinta ao contar os fatos históricos. Por vezes a narrativa se torna prolixa, cansativa e conta a história de forma arrastada, enfadonha e monótona. Talvez isso aconteça porque durante a maior parte dos seis episódios tudo acontece dentro de um barco no meio do oceano.
Os momentos de quebra de monotonia se dão a partir das poucas aventuras em terra firme, antes da navegação começar, quando encontram outros povos ou no regresso para a Espanha. Entre batalhas bem coreografadas, cenas que não economizam em sangue, tiro, flechas e barbáries, Sín Limites consegue proporcionar lutas visualmente bonitas.
A grandiosidade da produção fica evidente desde o início, afinal percebemos que houve bastante cuidado na construção de cenários, figurino, maquiagem, coreografias, trilha sonora, fotografia e na escalação do elenco. A dupla de protagonistas vividos por Rodrigo Santoro e Álvaro Morte, respectivamente Fernão e Elcano, até consegue ter uma dinâmica que funciona, conseguindo traduzir as dores de viver no alto mar em busca do desconhecido enquanto se sustentam pela fé.
Essa temática, inclusive, é bem difundida na série que nos conta sobre o rastro colonizador que os Espanhóis deixaram por onde passaram, seja através de cenas de orações, cruzes que identificavam a quem “pertencia” aquela ilha, momentos de catequese, etc.
Mas quando a narrativa “engasga” com ela própria as coisas começam a desandar e assim como a tripulação perdida no mar, o roteiro simplesmente parece não saber contar a história. Os eventos estão lá, documentados, escritos e difundidos nas aulas de História, porém a forma como o roteiro conduz os eventos parece que a ideia inicial seria de um filme e para não deixar nada de fora optaram por adaptar para TV.
Sín Limites finaliza a temporada apresentando o desfecho da viagem e apela para o emocionalismo tentando convencer o público com palavras bonitas, mas infelizmente a viagem não deu certo. Faltou estrutura, faltou algo que fizesse esse corpo ter vida.
Nota: 7,67
É tão bom ver Rodrigo Santoro atuando em estilo europeu. É um artista completo e diferenciado, diferente das atuações dos brasileiros nos dramalhões das novelas nacionais.
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