Escrito por: Pedro Rubens
Ao longo de mais de um ano e meio a Marvel vem inserindo novos personagens através das suas séries para streaming. Do experimento em adaptar histórias homenageando clássicos da TV até a expansão do multiverso e os agentes que estão por trás dele, o MCU tem crescido em quantidade de personagens, mas ainda não apresenta de forma objetiva para onde pretende ir.
Ms. Marvel, nova série do Disney+, nos apresenta a história da apaixonante Kamala Khan, uma adolescente paquistanesa, mas que mora nos Estados Unidos com sua família e que ganha poderes a partir do bracelete da sua bisavó. Ela só não esperava que grandes ameaças da cultura do seu país estariam no seu encalço procurando uma forma de voltar para seu mundo.
Desde os primeiros materiais de divulgação já era evidente qual seria o tom da nova adaptação da Marvel Studios. A todo momento a série se mostrava como sendo uma história de adolescente e, de fato, fez isso durante os 6 episódios dessa temporada.
A família superprotetora, os colegas de escola que não sabem aceitar pessoas diferentes, as desilusões amorosas e a paixão por heróis: tudo isso compõe o arco principal de Ms. Marvel, que ainda adiciona doses generosas da cultura palestina, proporcionando ao público uma experiência completamente imersiva. Curiosamente, todos os temas que a série se propõe a discutir, o faz com muita sabedoria e o máximo respeito possível.
Ms. Marvel conta também com uma trilha sonora que orquestra a história e conduz a narrativa, dando vigor e robustez. Além disso, a série se utiliza de ilustrações que vão mesclando durante os episódios e interagindo com os eventos reais, trazendo ainda mais singularidade para a produção.
A atriz Iman Vellani parece não ter nenhuma dificuldade em viver a protagonista. Pelo contrário, ela domina cada micropartícula da Kamala e demonstra que seu trabalho de atuação foi algo divertido, prazeroso e a realização de um sonho. Da comédia ao drama, Vellani dá aula de como ser genuinamente uma Super-Heroína em desenvolvimento e coloca toda sua característica paquistanesa pra jogo, criando uma personagem forte, com muitas camadas e ainda assim completamente cativante.
Todo o restante do elenco está muito bem alocado, dando vida e voz a personagens que explanam uma cultura que é tão distante da nossa, mas que tem tanto a nos ensinar. Isso é apontado nos inúmeros momentos de reunião familiar, nas cenas da mesquita, na viagem ao Paquistão e principalmente no penúltimo episódio, que se dedica a contar o arco da Partição da Índia.
Esse talvez tenha sido o episódio mais anticlimax da temporada, não por contar a parte histórica, mas por colocar o pé no freio diante da grande batalha que a temporada construiu e que se via diante dos olhos da protagonista.
As conveniências do roteiro na tomada de decisões são complicadas e levam a série para um caminho perigoso, mas que no geral não compromete o saldo positivo. Isso talvez seja parte da maneira de contar “histórias de adolescentes”, como a série se propõe. Porém, no final das contas, temos uma produção rica em detalhes, que tropeça em si própria, mas que encerra a narrativa de forma satisfatória e abrindo brechas para novas histórias da protagonista.
Quanto ao futuro do MCU, no geral, ainda não é possível afirmar com clareza para onde estão caminhando, mesmo que já tenham pistas no decorrer do percurso, como disse Kevin Feige. Mas a incerteza dessa jornada e a forma como as histórias estão sendo contadas no modo aleatório deixa uma pulga atrás da orelha.
Ms. Marvel é, de longe, a série mais fofa e cativante do MCU, disposta a contar uma história de origem com muita delicadeza, mas cheia de significados e simbolismos. Mesmo que o roteiro tenha dado voltas em círculos, essa com certeza é uma das melhores séries da Marvel Studios para o Disney+.
Nota: 8.75